O
QUE IMPORTA É MISTURAR-SE COM DEUS
Em um Planeta chamado Terra, quase nunca
ninguém olhava para o chão.
Quando olhavam era para reparar na
deselegância do sapato de alguém.
O dito popular alertava:
“O que tu trazes calçado nos pés, reflete o
que realmente tu és”.
Mas, Zé engraxate da Terra sempre caminhava
olhando para o chão, caminhava olhando sempre para os pés das pessoas.
Ele nunca viu em nenhum calçado deselegância,
mas em todos via opulência, via beleza, via realeza., em todos enxergava elegância.
No pó que cobria tanto o cromo Alemão quanto
a napa via um dourado, um lumiar, algo
além da poeira e da mera capa.
Zé engraxate engraxava de graça pelo
“simples” prazer de ver o pó desgrudar do sapato e grudar na escova.
Zé dava brilho de graça.
Andava de praça em praça e naquele caixote
pendurado nas costas que muitos diziam cheirava bosta, levava os resíduos da
poeira dos pés dos outros.
Quando chegava em seu barraco pendurado no
alto do morro Zé tirava aquele pó e guardava em sacos feitos do forro de
antigos travesseiros.
Devido seu “garimpo” diário os sacos estavam
todos cheios.
Dia a dia Zé engraxava de graça.
Dia a dia Zé acumulava.
Dava brilho no cromo e na napa.
Acumulava pó que para os outros era nada.
Zé engraxava em troca do pó que embaçava o
couro, pois para Zé, na realidade aquele
pó era ouro.
E assim seguiram-se 30 anos engraxando em
troca de pó como se fosse vício.
Foi ferido por pedras, internado em hospício
e chutado pelos próprios que deu brilho.
Certa madrugada percebeu que o barraco estava
dourado e que os sacos reluziam.
De repente uma voz que não se sabe de onde
surgiu sugeriu:
“Pegue o pó de ouro e espalhe-o no vento da
madrugada’.
Imediatamente, sem apego nenhum, Zé sacudiu
seus sacos de ouro um por um.
Neste instante, a escada que a cada manhã
declinava um pouco mais abismo abaixo se mostrou sólida, reta, reluzente e
diretamente conduzindo à Praça Central.
Será que estava sonhando?
Tudo bem, sonhar também não faz mal.
Zé se levantou sem perceber que estava nu e
caminhou pela escada dourada.
Esta, que parecia conduzir à Praça Central,
na realidade levava além.
ALÉM DO
MUNDO MATERIAL.
Foi então que Zé engraxate se deparou com
Deus.
Um cara humilde, despenteado, sem note book
nem celular e trazia nas costas algo
familiar.
O que Deus trazia nas costas não era asas e
sim uma caixa de engraxar zero quilate.
Tudo indicava que Deus era também engraxate.
Com flanela na mão Deus disse então:
Sente-se meu Irmão deixe-me dar brilho em seus
pés.
E flanelando, flanelando, flanelando Deus e
José foram se misturando, se misturando, se misturando até virarem um só.
A partir de então não mais existe entre cor e
crença nenhuma diferença.
Não importa a profissão, formação ou posses.
O que Importa é dar brilho de graça e
recolher pó como se fosse ouro, seja o calçado de napa ou de couro.
Devemos dar brilho e iluminar os breus.
Na realidade, O QUE IMPORTA É MISTURAR-SE COM DEUS.
Jaderson Sérgio. – jadersonsergio@gmail.com